top of page

Aprender sempre: vamos juntos?

  • Foto do escritor: Fernando Cesarotti
    Fernando Cesarotti
  • 15 de fev. de 2022
  • 4 min de leitura
O desafio para o bom professor é jamais fechar a mente para novas ideias e possibilidades


Imagem mostra uma visão lateral de uma sala de aula. À esquerda está a parede na qual um professor apresenta slides. Há cerca de 16 alunos, com roupas diversas, e o professor está de pé.
Estar em sala de aula é sempre uma chance de aprender. Para todos.

Esta breve reflexão sobre meus velhos professores e a missão de ensinar – e de aprender, como tenho percebido em quase uma década de profissão – .foi publicada originalmente no Jornal Expresso, produzido por um grupo alunos meus do CEUNSP em novembro de 2015. O jornal pode ser lido clicando aqui. Apesar de toda a transformação do mundo de lá para cá, muita coisa permanece atual.


A primeira delas foi a Tia Cris, mas eu confesso que não lembro da cara dela. Não sobrou nenhuma foto, apenas o nome ficou gravado na memória. Depois vieram as tias Salete e Zélia, no que, naquele tempo, ainda se chamava de pré. Delas eu tenho foto, quase não mostro porque estou vestido de palhaço e, bem, a maioria das pessoas têm medo de palhaço.

Já no chamado primário, hoje Ensino Fundamental I, vieram a Tia Nadir, a Madre Rosa. Pode Madre Rosa, ela e a Madre Paula, que era a diretoria, quase tiveram uma síncope quando minha mãe disse que ia me tirar do colégio ao fim da 2ª série porque a escola estava cara e, na visão dela, pouco produtiva. Era o mesmo colégio em que ela tinha estudado trinta anos antes. Mudei de escola, vieram a Tia Rita, a substituta Marisa. o seu Odilo. Então a família se mudou para Sorocaba e fechei o primário com a Dona Wilma.

No ginásio, começou aquela coisa de um professor para cada matéria e a memória se torna mais exigida, mas ficaram registrados a Marilene, de Matemática, que além de professora era vizinha e mãe dos meus melhores amigos; a Maria Regina, de História; o William, de Matemática; a Hilídia e a Heleni, em Português; o pobre seu Roberto de Ciências, que falava “pranta” e “pé-de-atreta” e era zoado pelas costas até a morte, como adolescente é mala e propotente, né?


E vai aparecendo mais gente

Em outra escola, conheci o Pedrão de Matemática, o Paulo Jackson de História (e também técnico do time de vôlei campeão dos Jogos Escolares de 1992, categoria infantil, meu único sucesso esportivo da vida), a Mariclara de OSPB e Geografia, que exigia que a gente respondesse “presente com a graça de Deus” e nem reclamar eu podia porque era a melhor amiga da minha mãe. A Regiane de Inglês deu aquele exercício de “preencher lacunas”, cada dupla escolhendo uma música, e nossa turma quase completou o disco preto do Metallica. (Eu e meu amigo Amendoim fomos de “Sad But True”, foi um choque. MAis de seis anos depois de escrever este texto, continuo sem fazer a menor ideia de por onde anda o Amendoim.)

No colegial (hoje Ensino Médio), comecei a trabalhar e meio que desandei pra escola. Matava muita aula, ficava no pátio jogando truco ou descia pra quadra jogar bola. No segundo ano, fugia pra namorar uma garota que morava ali perto. Mas ainda tenho lá minhas lembranças da Tina de Matemática, do Carlão de Química, da Tânia de Estatística, da Benedita de Contabilidade, da Idalina de Português, do Zé Roberto e do Vitório que dividiam as matérias técnicas de Processamento de Dados, curso que eu empurrei com a barriga quase o tempo todo, pois logo vi que a informática para mim seria só meio e não fim.

Veio então a faculdade de Jornalismo, na qual cresci para burro com as aulas do Manoel de Linguística, a Lúcia Helena e suas visões fálicas em todas as aulas de Semiótica, o Clodoaldo filosofando, o Max antropologando e o Murilo sociologizando. O Angelo ensinando a botar a mão na massa, o Luciano mostrando onde e no que colocar as coisas, a Maria Helena cobrando nas aulas de TV “faz passagem, Fernandinho” e eu me recusando, o Dino brincando e brigando com a gente na rádio.

Diploma na mão, muitos professores nas redações da vida (abraços especiais para o Benevides, o Celso, o Arreguy, o Colibri e o Jotabê), um retorno tardio à pós-graduação para o Edvaldo e o Sérgio me ensinarem que jornalismo e literatura podem ter tudo a ver e que uma boa matéria vai além, muito além de um bom lide.

(Tudo isso sem esquecer o Sergio de Matemática e a Inês de Estudos Sociais, ambos de vida, os maiores professores que alguém poderia ter em casa, inclusive saudades.)


Do outro lado do balcão

E eis que, depois de passar uns 20 dos meus até então 35 anos em salas e bancos escolares, apareceu a chance de ser professor. De ensinar um pouco da minha profissão, de mostrar a jovens esperançosos o caminho para a comunicação num mundo repleto de transformações, num momento em que o jornalismo repensa sua essência e existência, vivendo um futuro tão incerto quanto o preço do dólar na semana que vem. (Sim, as coisas já pareciam incertas em novembro de 2015 e, de lá pra cá, só piorou.)

Dar esse norte, ou tentar encontrá-lo junto com a molecada, é o que venho tentando fazer nesses oito anos de CEUNSP e em minhas passagens por vários colégios em aulas no Ensino Médio. É muito bacana ver que a gente pode ser útil na formação de alguém, colaborar para que uma pessoa alcance seus sonhos e desenvolva seu potencial. Fazer a diferença na vida de alguém, ainda que mínima, é um prêmio e tanto.

Mas vou contar um segredo: o que eu mais faço como professor, no fundo, é aprender. Na hora de preparar as aulas, nas apresentações para os alunos, nas discussões sobre os trabalhos, nas reuniões de pauta para os nossos projetos de laboratório e nos TCCs, nas observações sobre os formatos de redação de cada universidade. Junto com os alunos, ou por causa deles, o tempo todo descubro coisas novas, recordo informações vistas anos (ou décadas) atrás, revejo conceitos, encontro maneiras diferentes de encarar o mundo e o trabalho.

E assim segue essa gloriosa missão que é aprender. Aos alunos que me proporcionam essa experiência diária e a quem chegou a este site, meu muito obrigado e o convite: vamos juntos?

コメント


bottom of page